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Dos limites do conhecimento

Há certa tendência à irrefutabilidade e “perniciosidade”no que tange o conhecimento “absoluto” quando este está associado à lógica em seu último grau, como que uma cartada final para todos os problemas do pensamento humano,mas o problema apenas se inicia aí, quando o mesmo sai da esfera das “concatenações” de idéias claras.

Desde os primórdios da filosofia, por assim dizer, existiram preocupações sobre a possibilidade de existir algo, e ainda, caso as coisas fossem conhecidas, ficaria claro que elas seriam conhecidas. É famosa, por exemplo, a insistência de Sócrates de que ele não sabia nada. E Protágoras, o mais famoso dos sofistas , teve sua reputação amplamente baseada na declaração de que o “homem é a medida de todas as coisas”, com o que ele queria dizer, grosso modo, que todas as crenças são verdadeiras a partir da perspectiva da pessoa que afirma a crença…fato este que vem a ser corroborado na fenomenologia e também na primazia do sujeito epistemológico, que não está mais, de certa forma, sujeito a um encadeamento de rígidas regras que não três ou quatro, simples para a averiguação da “verdade”.
A visão de Protágoras é um dos primeiros exemplos de relativismo; isto é, refere-se à idéia de que as coisas somente são verdadeiras ou falsas a partir de determinadas perfectivas .
As respostas que essa declaração têm provocado, desde então, são indicativas do modo como os filósofos, por séculos, tentaram lidar com aquilo que vêem como ameaça do relativismo.
Em primeiro lugar, seus críticos tentaram mostrar que a afirmação se auto-refutava. Se todas as crenças são verdadeiras desde a perspectiva de alguém, então a crença de que todas as crenças não são verdadeiras desde a perspectiva de alguém também deve ser verdadeira. Um paradoxo. Infelizmente, esse argumento era refutado por si só de modo fácil. O relativista não universaliza afirmações verdadeiras; em outras palavras, a afirmação dele diz apenas que as crenças são verdadeiras para as pessoas que as adotam, e não que elas são verdadeiras para todo mundo.
Mas aí temos outro problema, pois isso oferece ao relativista uma objeção muito mais forte. Se a afirmação diz que as crenças são verdadeiras para todos, apenas no sentido limitado de que qualquer crença particular é verdadeira para a pessoa que a afirma isso, então é uma afirmação vazia, e não faz sentido que tal idéia pode de fato ser verdadeira apenas para uma pessoa, agredindo assim a idéia de verdade “universal”.
A lógica no entanto é um exercício para que possamos “sair” deste relativismo extremo, mas não obstante, incorremos no risco de nela também limitarmos nossas ultimas reflexões., daquelas que não comportam sua linguagem e formatação.
Embora neste primeiro momento estando averiguando o papel da lógica no conhecimento, é “práxis” salientar mesmo em primeiro plano (“introdutório”) , que isto não finda apenas na elaboração do discurso claro ou de sua “tangibilidade” em relação ao que é possível conhecer. Portanto, em se tratando de filosofia e de nossos clássicos filósofos, ao menos aqueles que impactaram a teoria do conhecimento em si, é notório que isto só é possível, a priori, através de um argumento lógico, mesmo que de certa lógica resulte ditas “circularidades” ou refutabilidades, como o famoso Argumento Ontológico de Descartes.
Em se tratando ainda de conhecimento, é sábio afirmar que o relativismo e o ceticismo ainda não desapareceram e formam um dos pilares marcantes da filosofia.
Assim, os pensadores do primeiro período moderno, tais como Montaigne, se preocuparam com eles, depois que souberam que pessoas viviam vidas muito diferentes no novo Mundo. Os filósofos dos séculos XVIII e XIX se preocuparam com as implicações do ceticismo do projeto de Descartes , de encontrar os fundamentos indubitáveis do conhecimento , e também com a idéia de Locke, de que o conhecimento está enraizado em impressões dos sentidos vindas do mundo exterior.
Posteriormente, os filósofos do século XX se interessaram pelo papel que a linguagem desempenha em nossa compreensão do mundo, se, de fato, as afirmações verdadeiras são discursos ou “jogos de linguagem” particulares, e , mais radicalmente, se a linguagem não se refere a nada no mundo em absoluto.
A epistemologia, então, como o ramo da filosofia que se interessa pelo conhecimento, é frequentemente um exercício de “apagar incêndios” , preocupada nem tanto com o que sabemos como com a refutação da afirmação de que nada sabemos em absoluto.

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Texto: Osvaldo Rinaldi
Formado em Letras (Inglês), (Licenciando em Filosofia)
 CEUCLAR-SP
Originalmente publicado no site Pessoal 

Quase Deuses – Resenha

O filme Quase Deuses narra a história real de Vivien Thomas (1910-1985), um afro-americano e do Dr. Alfred Blalock (1899 – 1964) de forma marcante. Duas pessoas totalmente diferentes em níveis de classes sociais e cor.
O foco deste filme é a narrativa da Segregação Racial. Nos EUA daquela época, os negros eram discriminados, separados como raça inferior, vivendo numa liberdade escravizada, tratados como escória, marginalizados em tudo, onde não podiam freqüentar ambientes destinados à elite branca, até mesmo dentro das instituições públicas.
Vivien Thomas era um jovem carpinteiro da cidade de Nashville no ano de 1930. Ele é demitido quando chega a Grande Depressão, pois estavam dando preferência para quem tinha uma família para sustentar.
Ele consegue um emprego para ser zelador no Laboratório de Cirurgias Experimentais Vanderbilt. Lá ele começa trabalhar para o Dr. Alfred que logo vê nele mais que um simples homem negro, mas uma pessoa de grande talento e de fácil aprendizagem. Infelizmente a Depressão o atinge duplamente, pois sumiram as economias de 7 anos, que ele guardou com sacrifício para fazer a faculdade de medicina, pois o banco faliu.
Ao lado do grande Dr. Alfred, Vivien tem a chance aprender muitas coisas. Pesquisas e experimentos são realizados pelos dois trazendo grandes resultados.
A história avança e por volta do ano de 1945 o Dr. Alfred Blalock se torna o novo presidente e chefe do departamento de cirurgias do Hospital Universitário John Hopkins. É claro que Vivien vai junto com o Dr. Alfred para o auxiliá-lo nos laboratórios. Logo o Dr. Alfred assume a missão de pesquisar uma solução para uma doença conhecida como o caso do Bebê Azul, manifestada por um problema cardíaco. Muitas pessoas vêem com olhos torcidos a presença de Vivien no laboratório pois alem de ser negro, ele nunca havia estudado medicina.
Muitos na Universidade tentem dissuadir o Dr. Alfred a esquecer o caso, mas ele se mantém firmes nas pesquisas junto a Vivien. Finalmente eles encontram uma possível solução por meio de uma intervenção cirúrgica (fato que não era visto com bons olhos, pois até então se acreditava que o coração não poderia ser operado).
Juntos eles mudaram o rumo da medicina. Juntos eles desenvolveram um grande feito. Mas a critica do filme gira em torno do fato de que apenas o Dr. Alfred ficou com os créditos. Para o resto da sociedade Vivien Thomas não era médico. Ele não era ninguém. Ele era invisível.
Vivien deixa o Laboratório, mas não consegue esquecê-lo. Ele pede para retornar ao Hospital. O Dr. Alfred continua com suas pesquisas e Vivien consegue de certa forma seu reconhecimento. Os anos passam e ele se torna o Diretor de Laboratórios do Hospital.
No epílogo, fica clara a mensagem subentendida do filme, quando o sonho de Vivien se torna realidade, recebendo o título de Doutor Honoris Causa. Também se realiza o “eu tenho um sonho” de Martin Luther King (1929-1968), ativista contra o preconceito e a segregação racial.
O Dr. Vivien Thomas, nunca cursou o curso de medicina, mas ainda sim, com sua determinação ele mudou o rumo das pesquisas em torno no coração e chefiou e ensinou diversos médicos nos processos das cirurgias cardíacas merecendo assim esse reconhecimento.
Só nos Estados Unidos hoje é realizada 1.750.000 cirurgias cardíacas por ano graças ao que esses dois homens fizeram em vida.

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Texto: Erisvaldo Correia
(Licenciando em Filosofia) CEUCLAR-SP

Farra do boi na amazônia

Atualmente, seja através dos meios de comunicação ou nos diálogos entre os cidadãos, destaca-se o tema “aquecimento global”.

Você deve ter se perguntado: como posso minimizar esse aquecimento no meu dia a dia?

Uma proposta simples está relacionada com nosso cardápio alimentar. Os fatos demonstram que recentemente a organização não governamental Greenpeace lançou um relatório demonstrando que boa parte da carne utilizada em nossa alimentação é resultante de áreas desmatadas da região da floresta amazônica, contribuindo para o aquecimento global.  O Ministério Público Federal (TO) tomou providências frente a este relatório e estabeleceu multa de R$500,00 por quilo de carne vindo de áreas de desmatamento, encontrado a venda em supermercados, empresas frigoríficas e açougues.

Segundo este relatório as principais empresas frigoríficas que comercializam carne dessas áreas são a BERTIN, JBS e MARFRIG.

Como poderíamos afinal, diminuir o aquecimento global com estas informações? Procurando a procedência da carne que é consumida em sua alimentação, questionando os supermercados, açougues e restaurantes, divulgando estes dados aos seus amigos e pedindo para que estes façam escolhas mais éticas e ambientais em suas compras mensais.

Preserve a floresta Amazônica, assuma com responsabilidade a sua parte, modifique seus atos diários, transforme o mundo…

Para maiores informações acesse: http://www.greenpeace.org.br

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Texto: Rodrigo Mendes Rodrigues
,
Graduado em filosofia (UFSJ), pós graduado em gestão escolar, filosofia contemporanea – Ética (UFSJ) e Filosofia Clínica.  Docente da Fundação de Ensino Superior de Bragança Paulista (FESB) e de escolas da rede particular e pública.

Uma Abordagem De F. W. Nietzsche

Resumo: O escopo deste trabalho é o de re-visitar a obra O Anticristo de F. W. Nietzsche, Anátema sobre o cristianismo, tradução de Artur Morão. Lisboa: Edição 70, 2002, em qual busca-se compreender os meandros da análise do Cristianismo como Décadence-Religion. Doravante, pretende-se ao investigar sua crítica ao homem ocidental, buscar subsídios para desenvolver uma análise, mais precisa, de sua linha lógica de reflexão, tendo o judaico-cristão como reflexo da/na “Cultura Ocidental”, como referencial aos valores vigentes, refletir quem é esse homem cristão, como se porta frente as várias relações de força e poder e por fim, buscar a proposta nitzscheana da Transvaloração de todos os valores, com suas implicações e relações intimamente ligadas ao novo homem que superaria o niilismo.

1.0 – Introdução: crítica a cultura ocidental

A partir da leitura da obra O Anticristo de Friedrich W. Nietzsche, vislumbra-se sua crítica às ditas formas superiores da cultura no Ocidente. As críticas são por ele interpretadas como produto da reflexão do tipo histórico-cultural constituído do homem moderno, pode-se com precisão observar tal crítica em seu § 1 da abra O Anticristo: – Não sei sair nem entrar; sou tudo aquilo que não sabe nem sair nem entrar” – lamenta-se o homem moderno… E é dessa modernidade que adoecemos – da paz podre, do compromisso cobarde, de toda a virtuosa sujidade do moderno sim e não. […] Antes viver no gelo do que no meio das virtudes modernas e de outros ventos do sul!… [1] As reflexões de Gérad Lebrun, sobre os escritos de Nietzsche, concluem que a cultura moderna teria sido gerada pela consolidação ao longo do projeto civilizatório, levado a cabo pelo Cristianismo (Christenthum [2]) do fenômeno religioso hegemônico no ocidente e dessa forma, duvida que possa realmente simpatizar com Nietzsche quem não considere o cristianismo como a mais interessante das neuroses que afligiram o espírito ocidental – quem não reconheça que não há crença (religiosa ou metafísica) que não seja mórbida, e que por isso “Dionysos” não podia ser candidato à sucessão do “Crucificado”.[3] A genealogia nietzscheana da cultura ocidental pode ser vista, essencialmente, como uma crítica à moral cristã e à modernidade, “como método de investigação, compete desvendar as condições e circunstâncias de surgimento de nossos supremos valores e ideais [4]”, propondo a avaliação dos valores morais em uma perspectiva fora da moral, além da moral, ‘além do bem e do mal’. Sua análise parte da vida (“como instinto, como força, como vontade”) em que suas condições determinam os juízos morais. Demostrando que a ciência dos modernos (Cientista) tem ao escolher seus objetivos pré-requisitos com bases em valores. Sendo está um das principais criticas do filosofo, ou seja, a concepção doas valores com vontade de verdade empreendida em meio ao cientificismo.O duplo auditório para o qual ela se dirige pode ser compreendido conjuntamente quando considera-se que as referências axiológicas fundamentais da moral cristã constituem também o substrato ético-religioso das mais importantes estimativas de valor do homem moderno, tendo em vista que “a Europa no final do século 19 vive um período de acaso – os ‘espiritos livres’ são homens tardios, legatários dessa herança espiritual acumulada”[5]. É por esse motivo que o desdobramento natural dessa antítese atinge a culminância sobre a forma do empreendimento filosófico que vem à luz com o escrito polêmico: O Anticristo.

2.0 – O Cristianismo como Décance-Religion

Partindo da interpretação nietzscheana acerca do Cristianismo, como a mais “malévola”, “sinistra”, (NIETZSCHE, O Anticristo, §38 p.58), ambígua, plurívoca e desconcertante versão ético-religiosa da vontade de nada (niilismo), compreendê-lo como formação cultural implica, antes de mais nada, considerá-lo como décadence. Para Nietzsche, o Cristianismo é, em sua essência Décance-Religion [6], e a lógica da décadence constitui o Niilismo [7], esta dinâmica interna da vontade do nada, onde temos a perda de nossos valores superiores onde a possível significação de qualquer sentido se esvai em um movimento a-consciente.Aprofundando a questão da Décadence podemos entendê-la como o processo de degeneração, cuja estrutura consta na hierarquia das forças que a constituem. Ainda podemos compreendê-la como o declínio de formações dominantes. Esta destruição, segundo Nietzsche é natural do mundo orgânico, sendo encarada como um processo. Para Giacóia, tal formação decadente é uma Verkahtheit, isto é, uma totalidade posta sob o império de um movimento de inversão violenta de fins e propósitos, cujo ser e operar põem em movimento a destruição de uma determinada estrutura hierárquica de forças em relação […] numa concreção orgânica que degenera, o Niilismo superintende o processo de conservação-destruição, cuja dinâmica é haurida na negação de toda alternativa [8]” Já em relação a graus de complexidade e organização, o processo da décadence das relações entre forças, expressa-se como crise de valores. A décadence anuncia-se pela subversão na ordem dos valores, na negação de sua hierarquia no compate ao tipo superior de homem, à partir da qual Nietzsche estrutura e desdobra seu pensamento opondo-se à cultura decadente expressa na moral cristã.

3.0 – O homem cristão

Passemos agora à descrição própria à filosofia nietzscheana da tipologia do homem cristão. Ao delinearmos o que Nietzsche entende pelo tipo característico do Cristianismo, aproximamos daquilo que o filósofo objetiva ao apresentar tal religião como símbolo maior do Niilismo. O homem do “ressentiment” (Op. Cit. §40 p.61), o cristão aqui em especial, quer transformar em força a própria fraqueza e objetiva transformar a própria fraqueza em virtude, atribuindo mérito à “renúncia”, à “paciência” (Op.Cit.§59 p.97) e à resignação. Segundo Nietzsche, a impossibilidade do tipo cristão de agir neste mundo leva-o a forjar a existência do outro, onde terá posição de destaque, ocupará lugar privilegiado, será figura eminente (“sacerdote”) (Op. Cit. §24 p.40)). Vejamos o que nos diz o próprio Nietzsche: Para poder dizer não a tudo o que na terra representa o movimento ascendente da vida, o são desenvolvimento, o poder, a beleza, a auto-afirmação, importava aqui que o instinto de ressentimento, transformado em gênio, inventasse para si um outro mundo, a partir do qual a afirmação da vida lhe surgisse como o mal, como o reprovável em si. [9]” Podemos, à partir deste apontamento, avaliar que o homem do ressentimento disfarça sua impotência em bondade, em coisas belas. Transforma a baixeza temerosa em humildade, a submissão aos que odeia em obediência, a covardia em paciência, a própria miséria em aprendizado para a beatitude, santifica-se.O homem cristão torna-se contra a vida, hostil a essa, é aquele que diz não a tudo quanto é natural e, finalmente, objetiva o desejo de represália em triunfo da Boa-Nova. O Reino de Deus aparece como produto do ódio e do desejo de vingança dos fracos. Seriam o ódio e desejo de vingança as palavras-chave para compreender o ressentimento. Incapaz de aniquilar o forte, o homem ressentido quer “retaliação”, vingança, mas não fazendo-o, imagina o momento em que sua ira se exercerá impiedosa e implacável, inventa a ocasião em que lhe será, finalmente, permitida a desforra. Por ser da própria impotência que nasce e se alimenta seu desejo de vingança, o ressentimento nem mesmo é sinônimo de reação: justamente por ser impotente para reagir, ao fraco só resta ressentir.

4.0 – A crítica da moral: a origem dos valores e o cientificismo

No mesmo compasso, o filósofo afirma que os valores morais foram instituídos, ou seja, que não existiram desde sempre, mas têm uma origem e uma história. Se não se pôs em causa o valor dos valores “bem” e “mal” (Op. Cit. §24), se nunca se hesitou em atribuir ao homem “bom” um valor superior ao do ruim, é porque se considerou os valores essenciais, imutáveis e eternos. Esse imaginário, cujo conteúdo é esvaziado na negação da alternativa, negação da vida, caracteriza, a décadence fisiológica transposta para o plano dos afetos, sentimentos e representações. Como podemos bem ver em sua colocação: Que é a própria moral? Não pode a moral ser um desejo de renegar a vida, um instinto secreto para o aniquilamento, um princípio de depreciação, de decadence, de difamação um começo do fim [10]. A em sua analise dois tipos de morais a dos “aristocratas”, sendo aquela praticada pelos homens que visam o “instinto”, a “força” e a “vontade de potência”; e a “dos escravos”, do “homem decadente”, “do rebanho”, voltada contra aqueles que a praticam, dos fracos que realizam juízos considerados metafísicos. Esses dois tipos de moral, que se expressam na civilização ocidental segundo o filosofo, provém da moral judaico-cristã e são expressos na ciência como questionadora da “vontade de verdade” (ensinam o determinismo e restringem a liberdade de ação), sendo está uma forma manifesta no niilismo. [11] Podemos no entanto compreender “vontade de verdade”, como reconhece Nietzsche [12], não como “força moral” mas como forma de “vontade de potência”.A ciência impregnada de valores morais e métodos imorais (“metafísica”) ainda que seja manifestação de “vontade de potência” se apresenta de forma pobre e conservadora (não de expansão da vida). Nesse sentido podemos compara-la a moral cristã, atividade niilista que possibilita a dominação da vida pelas forças reativas. [13]A ciência ao assimilar a vontade à crença da obtenção da verdade (“Vontade de verdade”) opõe verdade e aparência abrindo espaço a possibilidade da criação de um “novo mundo”.Como antípoda da moral judaico-cristã, Nietzsche intitulando-se “médico” (Op. Cit. §47) a sanar, procede em adjetivações próprias ao campo das forças naturais: a “saúde”, a “beleza”, “a rectidão”, a “bravura”, a “bondade da alma” (Op. Cit. §62) e a realidade. Sustenta que: […] seus semejantes ideales no son sino formas de una moral que debe ser superada mediante un punto de vista situado más allá del bien y del mal, manifestaciones de una vitalidad descendente, de un ascetismo al cual opone como valor supremo la vitalidad ascendente, la voluntad de viver y, en última instancia, la voluntad de poder. [14] Ao re-visitar seus escritos, temos momentos que fazem referência à décadence e à sua lógica, o Niilismo. Entendemos aqui o Niilismo enquanto “religião, filosofia, moral, [ciência,] produção artística, movimento social, convulsão política, violência revolucionaria [15]”, constituintes de uma lógica comum a todos estes processos, valores da cultura ocidental, tendo como constituição da verdade o nada (nihil). Em certo sentido o niilismo é “uma ameaça, porque é o fim de um desenvolvimento histórico sem saída. [16]”. É nesse sentido que Nietzsche interpreta o Cristianismo como sistema ético-religioso, fundamentado originalmente na metafísica da negação e do nada, fazendo através dela a crítica dos “valeurs de décadence” (Op. Cit. §6). Assim, todo o sentido da existência, tanto realizado pelo Cristianismo como pela ciência, é deslocado para o “Além” (Op. Cit. §23), para o nada, instituindo-se como valor incondicional, toda experiência histórica deste vazio se realiza sob a forma do Niilismo.

5.0. CONCLUSÕES:

Concluindo, e reafirmando a posição do professor Dr. Fernando de Moraes Barros em seu livro A maldição transvalorada, que a pressuposição de que o filosofar “anticristão” se acha prenhe de positividades. Sendo que somente sob o influxo de tais operadores teóricos, poder-se-á analisar de modo mais abrangente, o entendido que a idéia de transvalorização pode assumir dentro dos quadros da filosofia “anticristã”. Pudemos visualizar na filosofia “anticristã” de Nietzsche, que o sacerdote e o asceta são vistos como opressores negadores de si mesmo, decretando como condição antinatural o ‘caminho de Deus’, canalização do ressentido intolerante [17]. Mas, ao mesmo tempo, admite que é uma possível explosão de um ódio que surge da resignação, contendo-o, mas daí nasceria a igualdade antinatural da auto-flagelação [18] e por seqüência, para legitimar tais atos, os valores apregoados.Ao mesmo tempo, em medida, tais valores estão aptos a reconduzir o homem à efetividade, cujo “super – homem” nasceria com a “morte de Deus” e da derrota do velho homem ocidental limitado. Será o caso de indicar, nesse sentido, que não se trata apenas de recuperar o estado de coisas anteriores à inscrição do “social no animal homem”, mas redescobrir o âmbito polimorfo do vir-a-ser como algo novo, isto é, redimido do niilismo a partir do qual se criaram e reproduziram os valores ocidentais (valores morais judaico-cristãos). Pois foi isso que propôs o gênio e a carne com o “vôo da águia” ao ascender no mais alto pico da montanha e gritar com todas as forças, “TRANSVALORIZAÇÃO DE TODOS OS VALORES”! – eis que surgem assim, os limites do humano: o além do homem.

Relação Bibliografia
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Pulo: Martins Fontes, 2000.
ALMEIDA, Neto. A Critica à Ciência em Nietzsche e Weber. In.: Caderno de Filosofia e Ciências Humanas. N. 1 . –:Belo Horizonte, outubro de 1993.
DAVID, Coplesion S.J. Nietzsche Filósofo da Cultura. Trad. Eduardo Pinheiro. Nova Série Filosofia da Religião. 9º Volume. Livraria Tavares Martins: Porto, 1953.
GIACÓIA, Jr. O. Labirintos da Alma. Nietzsche: a auto-superação da morte. UNICAMP: Campinas, 1997.
______________. Schweppenhäuser, Gerhard e Chaves, Ernani. Dossiê Nietzsche. In.: Revista Cult, nº 37 editora Daysi Bregantini: São Paulo, agosto de 2000.
______________. Nietzsche e o Cristianismo. In.: Revista Cult. Nº 88 ano VII editora Daysi Bregantini: São Paulo, janeiro de 2005.
LEBRUN, GÉRARD. Passeios ao Leu. Po que ler Nietzsche, hoje? São Paulo: Brasiliense, 1983.
MACHADO, Roberto. Nietzsche e a Verdade. 2º edição Rocco: Rio de Janeiro, 1985.
MARTON, S. Nietzsche das Forças Cósmicas aos Valores Humanas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
MORA, Ferrater José. Diccionário de Filosofia. 5º edição Barcelona: Alianza Editorial, 1986.
NIEZSCHE, F.W. O Anticristo. Anátema sobre o Cristianismo. Trad. De Artur Morão. Lisboa: Edição 70, 1997.

Endereços eletrônicos: Sociedade Nietzscheana Internacional – http://www.nietzsche-gesellschaft.de

NOTAS

[1] Nietzsche utiliza o termo Décadence-Religion em francês buscando ampliar os horizontes significativos da palavra. Como podemos ver em toda a sua a obra a utilização de diversas línguas na tentativa de realizar tal exploração, tendo em vista seu vasto e grandioso conhecimento filológic
[2] NIETZSCHE, F.W. O Anticristo. Anátema sobre o cristianismo. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edição 70, 2002, p.15.
[3] “Nietzsche estabelece uma oposição entre Christenthum (Cristianismo) e Christlichkeit e Christ-sein (respectivamente Cristianicidade e ser-cristão). O Cristianismo ‘oficial’ consiste na redução do Ser-cristão, da espiritualidade própria à Cristianicidade, a dogmas, fundamento da crença eclesiástica. […] a Cristianicidade não se expressaria em estatutos, organização institucional com cerimônias e rituais; ela consiste antes numa práxis, num fazer e se abster, numa forma de ser. A Christlichkeit é uma condição natural de vida, não uma causalidade psicológica, ativada por crenças de estado mentais. Para Nietzsche, essa práxis – esta é autêntica Boa Nova.” Nietzsche, F. Der Antichrist. Flunch auf das Christenthum. Parágrafo XXXIX. In: Nietzsche, F. Sämtiche Werke. Kritische Studienausgabe [UKS], ed. G. Coli / M. Montianari, Berlin / New York / München: de Gruyter / DTV. 1980, vol. 6. p. 211-212. GIACOIA, O. J. Nietzsche e o Cristianismo. In.: Revista Cult. nº 88 ano VII editora Daysi Bregantini: São Paulo, janeiro de 2005, p. 52.
[4] LEBRUN, GÉRARD. Passeios ao Leu. Po que ler Nietzsche, hoje? São Paulo: Brasiliense, 1983, p.32.
[5] JÚNIOR, Oswaldo Giacoia, Schweppenhäuser, Gerhard e Chaves, Ernani. Dossiê Nietzsche. In.: Revista Cult. nº 37 editora Daysi Bregantini: São Paulo, agosto de 2000, p. 51.
[6] GIACÓIA, Oswaldo Júnior. Nietzsche e o Cristianismo. In.: Revista Cult. Nº 88 ano VII editora Daysi Bregantini: São Paulo, janeiro de 2005.
[7] NIEZSCHE, F.W. O Anticristo. Anátema sobre o cristianismo. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edição 70, 2002.
[8] “Niilismo: termo empregado na maioria das vezes com intuito polêmico, para designar doutrinas que se recusam a reconhecer realidades ou valores cuja admissão é considerada importante. […] Em outros casos, é empregada para indicar as atitudes dos que negam determinados valores morais ou políticos. Nietzsche foi o único a não utilizar esse termo com intuito polêmico, empregando-o para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças metafísicas.” In: ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Pulo: Martins Fontes, 2000, p.712. Já segundo MARTON, “O Niilismo diz respeito à história da verdade do ente assim determinado”. In.: MARTON, S. Nietzsche das Forças Cósmicas aos Valores Humanas. São Paulo: Brasiliense, 1990, p.11.
[9] GIACÓIA, Jr. O. Labirintos da Alma. Nietzsche: a auto-superação da morte. UNICAMP: Campinas, 1997, p.21.
[10] NIEZSCHE, F.W. O Anticristo. Anátema sobre o Cristianismo. Trad. De Artur Morão. Lisboa: Edição 70, 1997. §24, p.39.
[11] NIETZSCHE, F. Nascimento da Tragédia.–,–. Introdução. In. DAVID, Coplesion S.J. Nietzsche Filósofo da Cultura. Trad. Eduardo Pinheiro. Nova Série Filosofia da Religião. 9º Volume. Livraria Tavares Martins: Porto, 1953, p.85.
[12] ALMEIDA, Neto. A Critica à Ciência em Nietzsche e Weber. In.: Caderno de Filosofia e Ciências Humanas. N. 1 . –:Belo Horizonte, outubro de 1993.
[13] NIETZSCHE, F. Fragmentos Póstumos. Apnd. MACHADO, Roberto. Nietzsche e a Verdade. 2º edição Rocco: Rio de Janeiro, 1985, p. 86.
[14] GIACOIA, Jr. O. Labirintos da Alma. Nietzsche: a auto-superação da morte. UNICAMP: Campinas, 1997, p.35.
[15] MORA, Ferrater José. Diccionario de Filosofia. 5º edição Barcelona: Alianza Editorial, 1986, p.2366.
[16] NIEZSCHE, F.W. O Anticristo: anátema sobre o Cristianismo. Artur Morão (trad.). Lisboa: Edições 70, 1997, aforismos 6 e 23.
[17] NIEZSCHE, F.W. O Anticristo: anátema sobre o Cristianismo. Artur Morão (trad.). Lisboa: Edições 70, 1997, aforismos 26, 43 e 56.
[18] SALOMÃO, R. E.. A morte de Deus e idealização do homem segundo a ótica moral de Friedrich Nietzsche. (monografia de aperfeiçoamento / especialização em Filosofia). UNB, 2005. p. 25.

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Texto: Rodrigo Mendes Rodrigues
,
Graduado em filosofia (UFSJ), pós graduado em gestão escolar, filosofia contemporanea – Ética (UFSJ) e Filosofia Clínica.  Docente da Fundação de Ensino Superior de Bragança Paulista (FESB) e de escolas da rede particular e pública.

Anaximandro & Anaximenes

Anaximandro de Mileto

Anaximandro foi discípulo de Tales na Escola Jônica Antiga, cujos membros acreditavam que o Universo era estático, e procurou aprofundar as idéias do mestre sobre a origem de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural, água, fogo, ar, terra, ele acreditava não ser possível eleger uma única substância material como princípio primordial de todos os seres, isto é , a arqué.

De acordo com o autor Ubaldo Nicola na sua obra Antologia Ilustrada da Filosofia, “Anaximandro foi o primeiro a usar o termo arqué, que em grego significa o princípio, o fundamento, aquilo do qual tudo se originou e que mantém o mundo vivo”.[1]

Para o pré-socrático, esse princípio era algo que estava acima dos limites do observável, ou seja, não se situava numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o o ápeiron, termo grego que significa o infinito, o ilimitado, o indeterminado. Segundo ele, a arqué, ou seja, o ápeiron, só poderia ser alcançado pelo pensamento  e pelo intelecto. Da mesma forma que Tales dizia que tudo começava com a água, se desenvolvia com a água e terminava na água, Anaximandro dizia que todas as coisas surgiam do ápeiron e retornavam ao ápeiron. Essa crença prenuncia a máxima de Einstein que diz que “ a matéria não pode ser criada nem destruída”.

 Anaxímenes de Mileto

anaxi

Anaxímenes foi discípulo de Anaximandro e admitia que a origem de todas as coisas era indeterminada. Entretanto recusava-se a atribuir-lhe o caráter oculto de elemento situado fora dos limites da observação e da experiência sensível.

Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e Anaximandro, concluiu ser o ar a arqué, o princípio de tudo. Isso porque o ar representa um elemento invisível, imponderável, quase que inobservável , e, no entanto, observável. Anaxímenes afirmava que o ar era a própria vida, a força vital, a divindade que animava o mundo, aquilo que dava testemunho à respiração.

Encerro aqui os pensadores milesianos que desenvolveram seu pensamento filosófico na colônia grega de Mileto na Jônia e  foram também membros da Escola Jônica Antiga, Tales , Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, que contribuíram muito para o desenvolvimento do pensamento filosófico  e científico. Um elemento fundamental aqui é que eles passaram a buscar respostas racionais para as suas dúvidas e inquietações, rompendo com o pensamento mitológico ao qual os gregos costumavam recorrer. A Filosofia surgiu como Cosmologia e a característica dela era a busca da verdade, que neste caso pode ser questionada e trabalhada de vários pontos de vista. Se Tales e seus contemporâneos recorressem aos mitos,  nós hoje não teríamos a oportunidade de analisar teorias diferentes, formas diversas de explicação para a arqué, pois  um mito não podia ser questionado, porque os gregos acreditavam que quem narrava o mito(o poeta) era um escolhido dos deuses, e não acreditar em  algo que um poeta narrava era o mesmo que não acreditar nos deuses.


[1] NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada da Filosofia p. 15

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Texto: Danilo Freire
(Graduado em Filosofia)
 UNIFAI